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POR APENAS 20 MINUTOS

2023



Performance e instalação land-arte desenvolvida na residência artística Geografía Poética, no bairro rural de Tortajada (Teruel, Espanha).




Por apenas 20 minutos ao dia, escapo eu mesma. Por apenas 20  minutos, sou um eu que não está no seu próprio corpo; sou um eu que é turista, um eu que existe imaterial, dentro da pele de um outro ser. Tortajada sente-se assim, como uma pele, como uma pele que visto — uma pele que habito — mas por apenas 20 minutos. Hoje fiz de Tortajada casa — hoje sou uma das suas ocupas — uma casa que desliza entre os meus dedos, que se esquiva, que escapa o meu alcance. Apenas 20  minutos são suficientes para me aperceber de que apenas 20 minutos não alcançam para fazer casa numa outra pele. Volto à minha que agora a sinto todavia mais minha.


          No último século, o conceito afetivo de "casa" mudou substancialmente. Em Portugal, conheci idosas que passaram toda a vida no mesmo pedaço de terra sem nunca ter visto o mar. Penso que, nessa altura, as pessoas nutriam um afeto mais profundo pelo seu entorno, porque só conheciam uma casa: a "sua casa". Hoje em dia, no auge da globalização, as novas gerações estão em constante movimento. Muitas de nós não conseguem construir uma casa, ou constroem muitas meias-casas. As nossas casas, as nossas muitas casas, estão todas incompletas e, no entanto, temos a compulsão de continuar à procura de casas novas, casas melhores, mais completas, em vez de alimentarmos as que já temos.

A partir do pessoal e do íntimo, "por apenas 20 minutos" fala do síndroma contemporâneo da mobilidade constante, e da consequente fetichização do desconhecido e consumismo dos lugares. Enquanto artista em residência temporária, foi-me impossível estabelecer um contacto constante com Tortajada. Não obstante, inspirada pelas histórias das suas vizinhas, criei uma casa através delas: fantasiando - ou vestindo - um sentimento de casa que na realidade nunca tive. Lília e Consolación contaram-me sobre as vizinhas que, depois da guerra, regressaram à ruína de Tortajada para a reerguer. Marián, que vive ali há poucos anos, confessou-me que, quando entra pela estrada aproximando-se de Tortajada, é abraçada pelo conforto de chegar a casa. Carmen tem a sua vida em Teruel, mas todos os Verões regressa a Tortajada, a sua casa.

Partindo de uma nostalgia por outras formas de habitar o território, "por apenas 20 minutos" utiliza a terra como elemento simbólico representativo do lugar. A dramaturgia da performance foi definida pelas acções "chegar", "acarinhar", "consumir" e "partir". As marcas deixadas pelo meu corpo (agora ausente) no solo desaparecerão com a chuva e o vento, mas a lembrança do encontro perdurará na minha memória e na de quem partilhou casa comigo por apenas 20 minutos.




























Fotografia: Joana Carvalho



















Um grande agradecimento aos membros da equipa da residência e às vizinhas de Tortajada que me ajudaram a dar vida a este projeto:







Alegría
Ana
Belén
Bruno




Carmen
Consolación
Eros
Holga



Joana
Joaquín
Lilia
Manuel


Marián
Mateo
Miguel
Puchi
Rogelio


Mark