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Mark

SEM MEDO DE DANÇAR

2022



Projeto multidisciplinar in-situ (video, performance, instalação e arte urbana) desenvolvido na residência artística ZONA Lamego no contexto do ZigurFest (Lamego).





         
Este projeto foi desenvolvido no contexto de uma residência artística em ZONA Lamego, no contexto do festival ZigurFest. “Sem medo de dançar” reflete sobre como o espaço público não é, na realidade, assim tão público devido à sua natureza incrivelmente regulamentada, as dinâmicas políticas relativas ao seu uso, e o espaço que resta para a liberdade de expressão. O projeto consiste em 3 ações localizadas em pontos estratégicos de Lamego: Antas de Mazes, uma aldeia completamente vazia que foi abandonada pelos seus habitantes devido à falta de infra-estruturas e acessos, agora “marketizada” como uma atração turística, “a aldeia fantasma”; a piscina da Associação Desportiva de Avões, outrora um lugar recreativo para a comunidade local, agora abandonada e a cair em rápida deterioração; o Teatro Ribeiro Conceição, um edifício renovado do século 18, localizado no coração de Lamego.











ALDEIA ANTAS DE MAZES 

Antas de Mazes é uma árida aldeia de pedra, pousada sobre a ponta de um monte na Serra do Montemuro. Durante as semanas que passei em Lamego, descobri que Antas de Mazes está vazia de gente há cerca de 50/60 anos. Os seus habitantes foram gradualmente forçados a partir devido aos fracos acessos e vulnerabilidade ao mau tempo e quedas de relâmpagos. Uma vez estava a tomar o pequeno almoço num café junto à residência, e terminei a conversar com um senhor idoso que costumava viver em Antas de Mazes. Agora vive no sopé da colina noutra aldeia com melhores condições de vida, mas ainda preserva a sua velha casa em Antas de Mazes, onde vai de vez em quando dar uma arrumadela.








Quando visitei Antas de Mazes, senti-a inquietante: sem sinais de existência humana, cada casa aparentava-se surpreendentemente preservada. Não pude evitar perguntar-me se esse cuidado provinha de nostalgia ou algo mais. Senti-me triste. Quando ainda estava em Lamego, encarei como um dever trazer alguma vida a esta aldeia abandonada, mas chegando a Antas de Mazes sentia-me uma invasora, como que entrando numa privacidade que não era a minha. Não me pareceu correto intervir, por isso fiz este vídeo. A minha marca foi só temporariamente colocada entre as pedras da aldeia: gravada sobre lençóis de plástico, simbolicamente cuidei estas casas vazias, subtilmente questionando a preservação de algo que já não serve um propósito. Após capturar as imagens, parti e levei as minhas marcas comigo.




PISCINA DA ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA DE AVÕES


A última parte do vídeo concretizou-se na piscina da Associação Desportiva de Avões. Ao contrário de Antas de Mazes, ninguém pareceu cuidar deste lugar. Costumava ser um lugar de encontro e diversão para a comunidade local, e no entanto — quer por escassez de financiamento, interesse ou COVID (?) — acabou por encerrar. Não consegui descobrir por quanto tempo estava abandonada, mas sinais indicavam que não seria por mais de 4 anos. Chocou-me que, pelo seu estado de degradação, parecia mais estar encerrada há 20 anos. Sozinha, fiz uma performance na sua piscina. Ninguém me viu. A única nadadora numa caixa desmoronada tão nula de água.







Captura de Video: João Pedro Fonseca, André Teixeira
Edição de Video: Inês Nêves







TEATRO RIBEIRO CONCEIÇÃO 

Estas imagens são da pintura-performance que realizei no Teatro Ribeiro Conceição. Esta questionava o porquê da expressão artística de uns ser de alguma forma mais valorizada que a de outros, e como — ao integrar um festival e residência que trabalha em proximidade com os orgãos governamentais locais — fui autorizada a praticar uma ação num edifício histórico que seria de outra forma considerada vandalismo (tal como foram os traços previamente aí deixados por transeuntes anónimos).





Imagens: stills do vídeo do Zigurfest, por André Abrantini.



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