DE CRESCER, INÊS NÊVES
2023
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PORTUGUÊS
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DE CRESCER, 2023
INÊS NÊVES
“Do som da água da fonte às badaladas de sinos inertes, a cada passo, Inês conduz por uma paisagem que atravessa passado, presente e futuro sob o seu olhar. Um imaginário que traduz suas memórias de infância, enquanto propõe o resgate de um local que permaneceu visualmente cristalizado enquanto experimentou seu esvaziamento. Essa atmosfera captura uma reflexão coletiva sobre as vivências e locais de afeto de cada espectador-caminhante, questionando como cada um de nós “contribui para a construção afetiva de um lugar, e, em contrapartida, como os lugares moldam a nossa própria essência”. A ativação ocorre por meio de um percurso-performance baseado em um audioguia que culmina em uma dança que manifesta as múltiplas camadas de um espaço em transformação.”
Foucault definia a heterotopia como uma manifestação e materialização de lugares imaginários na sociedade. Estes lugares desenvolvem-se sobre espaços isolados que permitem a construção de imaginários, valores éticos/morais e comportamentos alternativos que existem simultaneamente dentro e fora do espaço social.
Tendo vivido fora durante 5 anos, após retornar às minhas origens, procurei refúgio nos locais da minha infância que prevaleceram no tempo, mas confrontei-me com várias mudanças no território e na sua utilização. Um destes lugares foi o Fontanário da Presa de Contumil. O Fontanário da Presa de Contumil é um local que permanece fisicamente imutável, mas cuja identidade afetiva e narrativa está em constante mutação, alternando entre um lugar de convívio, um lugar de conflito, um lugar de passagem, ou um lugar de resistência. Através dos anos, entre presenças e ausências, este lugar transformou-se em diferentes heterotopias definidas por quem o frequentava.
Rodeado de terrenos agrícolas, nos meus tempos de infância, a Presa de Contumil era um espaço social onde crianças brincavam e adultos lavavam a roupa. Com a sua deterioração e a urbanização dos terrenos adjacentes, o espírito de usufruto e convivência que lhe era característico foi-se perdendo. Com o envelhecimento da sua população, o Fontanário deixou de ser tão ativamente frequentado. Durante os anos que lhe seguiram, foi estigmatizado como um lugar de perigo, “o spot onde param os gunas da Areosa”. Anos depois, com as obras do metro e a expansão da cidade, a área em redor foi-se tornando exponencialmente mais habitada, mas o quarteirão do Fontanário foi-se deteriorando e desertificando. Ligando em linha reta a zona residencial pousada sobre a colina, à paragem do metro, este lugar converteu-se num espaço de passagem, num lugar liminal, num quase-não-lugar, para todos exceto os que ainda aí habitam.
A partir de um ponto de vista pessoal e íntimo, desenvolvi uma performance multimédia que comunica a história do Fontanário da Presa de Contumil. Conduzido por um audio-guia que conta o imaginário dos lugares de infância que comparti com o meu avô, o público é levado desde o meu infantário até ao Fontanário da Presa de Contumil. No Fontanário, realizei uma performance na qual através de uma reinterpretação da dança tradicional portuguesa “Vira”, fiz voar testemunhos sobre a Presa de Contumil, partilhados pelas suas vizinhas. Após a performance, o público é convidado a deixar também os seus testemunhos — reais ou imaginados — sobre o Fontanário da Presa de Contumil.
Abrindo espaço para a criação e partilha de um imaginário coletivo, o objetivo deste projeto foi, a partir das minhas memórias afetivas, enaltecer re-significar o Fontanário da Presa de Contumil em prol da construção de uma heterotopia comum que pertence a quem aí vive tanto quanto a quem por lá passa.
GROWING DOWN, 2023
INÊS NÊVES
"From the sound of fountain water to the tolling of inert bells, with each step, Inês leads us through a landscape that crosses past, present, and future through her eyes. An imagery that translates her childhood memories, while proposing the rescue of a place that remained visually crystallized while experiencing it emptying. This atmosphere captures a collective reflection on the experiences and places of affection of each spectator-walker, questioning how each of us "contributes to the affective construction of a place, and, in return, how places shape our own essence". The activation occurs through a performance-route based on an audio guide that culminates in a dance that manifests the multiple layers of a changing space."
Foucault defined heterotopia as a manifestation of imaginary places in society. These places develop in isolated spaces that allow the construction of imaginaries, ethical/moral values, and alternative behaviors that exist simultaneously inside and outside the social space.
Having lived abroad for 5 years, after returning to my origins, I sought refuge in the places of my childhood that prevailed in time, but I was confronted with several changes in the territory and its usage. One of these places was the Fontanário da Presa de Contumil. The Fontanário da Presa de Contumil is a place that remains physically unchanged, but whose affective and narrative identity is constantly changing, alternating between a place of conviviality, a place of conflict, a place of passage, or a place of resistance. Over the years, between presences and absences, this place has been transformed into different heterotopias defined by those who walked its streets.
Surrounded by agricultural land, in my childhood days, Presa de Contumil was a social space where children played and adults washed their clothes. With its deterioration and the urbanization of the adjacent land, the spirit of enjoyment and coexistence that was characteristic of it was lost. With the aging of its population, the Fountain was no longer so actively frequented. During the years that followed, it was stigmatized as a place of danger, "the spot where the Areosa thugs stop". Years later, with the metro works and the expansion of the city, the surrounding area became exponentially more inhabited, but the Fontanário block became deteriorated and desertified. Connecting in a straight line the residential area perched on the hill to the metro stop, this place has become a space of passage, a liminal place, a quasi-non-place, for everyone except those who still live there.
From a personal and intimate point of view, I developed a multimedia performance that communicates the history of the Fountanário da Presa de Contumil. Guided by an audio-guide that tells the imaginary of the childhood places I shared with my grandfather, the audience is taken from my kindergarten to the Fontanário da Presa de Contumil. At the Fontanário, I made a performance in which, through a reinterpretation of the traditional Portuguese dance "Vira", I distributed testimonies about Presa de Contumil, shared by its neighbors. After the performance, the audience is invited to leave their testimonies as well - real or imagined - about the Fontanário da Presa de Contumil.
Opening space for the creation and sharing of a collective imaginary, the objective of this project was to praise and re-signify the Fountain of Presa de Contumil though my affective memories, in favor of the construction of a common heterotopia that belongs to those who live there as much as to those who pass by.
PROJETO DESENVOLVIDO NO CONTEXTO DO DES/ORIENTE 2023.
CURADORIA: LAÍS FRANÇA E RACHEL MERLINO
APOIO: CRIATÓRIO (COLETIVO PLAKA)
www.desoriente.net
PROJECT DEVELOPED IN THE CONTEXT OF DES/ORIENTE 2023.
CURATING: LAÍS FRANÇA E RACHEL MERLINO
SUPPORT: CRIATÓRIO (COLETIVO PLAKA)
www.desoriente.net
CURADORIA: LAÍS FRANÇA E RACHEL MERLINO
APOIO: CRIATÓRIO (COLETIVO PLAKA)
www.desoriente.net
PROJECT DEVELOPED IN THE CONTEXT OF DES/ORIENTE 2023.
CURATING: LAÍS FRANÇA E RACHEL MERLINO
SUPPORT: CRIATÓRIO (COLETIVO PLAKA)
www.desoriente.net
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